quarta-feira, 1 de julho de 2009

ADEUS AMAZÔNIA


A perseguição era grande, todas as madrugadas alguns dos seus amigos eram raptados, “Para onde iam? Que interesses poderiam despertar aquelas criaturas verdes?” Eram estas as perguntas formuladas pelo jovem sapo Filomedus.
Ele diante daquele quadro de insegurança tomou uma resolução: sairia da Amazônia, lugar onde nasceu e sempre viveu e iria para outra região do Brasil. Procuraria viver onde não existisse violência, desrespeito a sua vida. Ali não dava mais para morar, constituir famílias? Nem pensar. Que segurança e garantia teria para o futuro dos seus filhos?
A maior parte dos seus amigos já tinha desaparecido misteriosamente. Nenhum sinal de vida, nenhum corpo encontrado. Ele, Filomedus daria adeus definitivamente a Amazônia. Naquela madrugada entrou num barco veleiro, chegou a Manaus e no aeroporto comprou passagem para o Nordeste, mais precisamente Natal.
Por que Natal? Por dois motivos: o ar mais puro da América Latina e o Parque Estadual das Dunas. Chegou cansado, exausto. Do aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim, até o Parque das Dunas ele foi de táxi. No trajeto o motorista puxou conversa:
__Está vindo para passear ou veio morar?
__Vim morar.
__De onde vem?
__Da Amazônia
__Qual o seu nome?
__Em latim é PHILLOMEDUSA BICOLOR, mas pode me chamar de Filomedus, afinal é assim que sou conhecido. E o seu nome?
O taxista respondeu:
__Valdemilsom, mas pode me chamar de Gaspar.
Quando Filomedus chegou ao Parque das Dunas foi muito bem recepcionado. Recebeu das mãos do administrador do Parque um exemplar da Lei n°. 4.100/92 que trata do Código do Meio Ambiente. Ele pensou: “Vivi tanto anos na Amazônia e nunca recebi um código destes”. Lamentou.
Enquanto fazia sua ficha cadastral, conversando com os engenheiros florestais, Filomedus ficou sabendo que a causa pela qual sua família vinha sendo raptada.
Filomedus não voltaria mais para a Amazônia. Não haveria argumento que fosse capaz de mudar seu pensamento. Se a espécie humana não foi capaz de proteger e respeitar Chico Mendes, como ele poderia acreditar que esta mesma espécie irá salvá-lo do extermínio dos sapos verdes.
Dias depois mandou uma carta para seus familiares:

Natal –RN,

Queridos pais, amados irmãos.

Agora eu sei por que estão raptando nossa espécie. Tudo acontece por causa da secreção cutânea que nosso organismo produz. Ela é utilizada pelos cientistas como matéria prima, para a fabricação de uma vacina, chamada Vacina do Sapo. Somente nós, os sapos verdes, nobres da família HYLIDAE, produzem tal secreção.
Esta ação criminal é denominada de Biopirataria. Cuidem-se. Evitem coaxar na madrugada. A qualquer sinal da presença humana afastem-se. Quanto a mim estou muito bem. Natal é linda, maravilhosa, acolhedora. A cidade possui dez zonas de preservação ambiental (ZPA).
Resido na ZPA-2, formada pelo Parque Estadual das Dunas, minha casa fica na Trilha da Peroba, logo após a quinta mangabeira do lado direito. Aqui pode não ter tantas diversidades de insetos, mas tem paz, equilíbrio ecológico.
Quando chega a noite, fico cantando para as sapinhas potiguares e confesso que elas são bem assanhadas. Hoje, sairei com uma perereca, ficaremos namorando na praia, contemplando a lua.
Abraços do filho e irmão Filomedus.

Um comentário:

Sirley disse...

Francisco,
Como são as coisas: até um sapo pode ter bom gosto. Isso fica evidente na escolha feita. Natal é realmente espetacular!
Abraço.