sexta-feira, 13 de maio de 2011

CHEIRA AQUI, CHEIRA ACOLÁ





Neste mundo de meu Deus, eu já cheirei tanta coisa!

Cheirei os peitos de minha mãe, quando criança de braço, em busca daquele leite. Depois engatinhando, menino bricando embaixo da mesa e tropeçando nos tamboretes, cheirava de vez em quando os buracos das paredes, vendo os besouros entrando em suas casas. Aí eu fui crescendo, ficando taludinho, já me aprumava sozinho e dava os primeiros passinhos, e quando a mão alcançava eu pegava lá na cuia, a barra do sabão de coco e cheirava com vontade. Entrando já meninote, no barracão do meu pai, alcancei nas prateleiras, coisa que não esqueço jamais, cheirei e me arrependi, pois a inhaca não sai, um rolo de fumo de corda, que os véis gosta demais. De tanto cheirar as coisas, minha venta foi se aprimorando, e naquela fazenda, eu via o boi cheirando. E pensava sentando na porteira: " O boi tá é gostando!" De Menino prá rapaz, foi um pulo e nada mais. Tomava banho no rio, me enxugava com o sol, passava desodorante e brilhantina Zezé, o cabelo ficava arrumado e dentro de mim espumava um desejo de num sei de onde eu cheirar e ser cheirado pelas moças do arraiá. Cheira aqui, cheira aculá, foi cheirando sem parar, conheci na capitá uma tá de Sandra e aí a coisa vai aumentar. Já era homi fornido, meu coração foi nutrido pela donzela que vi. Não tive mais sossego, desde aquele dia, minha vida era um aperreio pois em tudo que pegava, e os meus sóios mirava só via aquela donzela. Pra aumentar meu suplício, eu que vinha lá das brenhas, não sabia nem falar, tudo que tinha aprendido de melhor erar cheirar, cheguei pra mocinha e com grande sinceridade eu disse : "_Posso amostrar?"A moça muito educada, instruída e sem querer caçoar, falou pausadamente: "-O que o moço que mostrar?" Larguei um cheiro na hora! Parecia que as esporas estavam me cutucando, pois quanto mais eu cheirava mais minhas venta sugava o pescoço da donzela. Passei os braços na cintura, chamei seu corpo pro meu, fui do pescoço ao rosto e meus olhos miraram os seus. Nossas bocas se uniram e num longo e quente beijo, nossas almas se amarraram. Hoje, meu bichim, já se passou 26 anos, mais eu ainda não troco o cheiro desta mulher por coisa nenhuma no mundo. Nela tá a minha paz, minha vida e tudo mais. Meu cheiro de viver, meu perfume e apetecer, coisa que Deus me deu mermo sem merecer!



(Mané Beradeiro - Natal-RN 13 de maio de 2011)

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