segunda-feira, 28 de julho de 2014

CANGACEIRO ATRAPAIADO


28 de julho é a data em que caiu o Rei do Cangaço,  Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião. Reinou de forma absoluta neste torrão nordestino,  com seu bando de homens, que praticavam crimes, faziam ações de justiceiros, saqueavam e semeavam admiração e pavor nas terras por onde passavam. Ser cangaceiro era sinônimo de cabra macho, corajoso, destemido. Lampião morreu em 1938, 76 anos  se passaram e marcou a história do Brasil.
 Convido você a conhecer o texto abaixo, escrito pelo poeta Kydelmir Dantas*. É uma poesia sempre presente nas apresentações de Mané Beradeiro, e verá que nem todo homem tinha vocação para o cangaço.

CANGACEIRO ATRAPAIADO

Por causa d’uma caboca,
Veja o que se assucedeu.
Pedi a mão ao pai dela,
Porque o ‘véi’ num me deu,
Ele foi o ganhador
E quem se lascou fui eu.

Inda peitei o ‘veião’
Dizendo que era macho.
Ele me disse: Antôi!
Deixa disso... Sai de ‘báxo’.
E foi dizer a mamãe,
Pra me quebrar o barbicacho

Levei uma surra tão grande,
Quase que quebro o cabaço.
Com raiva peguei um rifle,
‘Revórvi’ e punhal de aço,
Saí de estrada a fora,
‘Imburaquei’ no cangaço.

O pior aconteceu
No primeiro batismo de fogo.
Depois da raiva passada,
Que eu estava dentro do jogo,
Senti um medo tão grande,
Que quase perdi o ‘fôigo’.


O tirinete cobrindo,
Fiquei logo esmorecido.
Corri pra trás de uma pedra,
Escutando o destampido.
Senti a calça molhada,
Pensei logo: - Tô ferido.

Nisso, lá vem um colega
Correndo para o meu lado.
Eu perguntei: Azulão,
Um pouco desconfiado,
Cê sabe se sangue fede?
Se fede, tô baleado...

Ele foi, me examinou,
Tapando com a mão a venta,
E me disse: - Cabra frouxo,
Tua ‘carça’ s’arrebenta!
Tu ‘tás é todo cagado,
Fede que ninguém agüenta.

Com isso peguei o rifle,
Revólver e o punhá de aço.
Voltei para minha roça,
Que aqui sei o que faço.
E por causa de mulher,
O Diabo vá pro cangaço!
 

(*) Antônio KYDELMIR DANTAS de Oliveira (06/09/1958 -)
Agrônomo, pesquisador e poeta de Nova Floresta - PB, filho do agricultor Manoel Batista de Oliveira e da professora Angelita Dantas de Oliveira. É pai de Joaquim Adelino e João Daniel. Fez o Curso Primário em Nova Floresta (PB), continuando os estudos no Ginásio Agrícola de Currais Novos (RN) e no Colégio Agrícola de Jundiaí, em Macaíba (RN). Concluiu o curso de Agronomia na UFPB/CFT/Campus III – Areia (PB). Funcionário da PETROBRAS, desde abril de 1987, trabalhando em Mossoró - RN, onde reside. Publicou, além de artigos na imprensa nordestina:
LIVROS: Filarmônica José Batista Dantas - 30 Anos de Glória (1995); Mossoró e o Cangaço (1997); Severino Ferreira - O Assum Preto da Viola (1997); Os Três Pilares da Música Popular Nordestina. (1998); Participação na VIII Antologia Literária Internacional. Editora Del’Secchi. Vassouras – RJ. 1999; Remendos. (2001).
CORDÉIS: Cangaceiro Atrapaiado – 1995; As Vaquinhas do Doutor – 1997; A festança da vitória lá na Família Feliz – 2002; O Milagre do Tributo (em parceria com Antônio Francisco); Luiz Gonzaga e a Paraíba – 2005; ABC de Zédantas – 2005; Como um cabra da peste apresenta sua Terra  - 2005; Deífilo Gurgel, um folclorista Potiguar - 2006; ABC da Petrobras – 2007; Vamos cuidar com carinho do nosso Corpo e da Mente (A Saúde Emocional) – 2007; As Mulheres Cangaceiras humanizaram o Cangaço – 2008.


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