sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

COMENTANDO MINHAS LEITURAS EM CORDEL : EVENTOS SOB O SOL A PINO - INCIDENTES SOB A LUA CHEIA

Aderaldo Luciano (53)  é bastante conhecido pelas suas pesquisas desenvolvidas sobre o Cordel, suas considerações são bem pertinentes sobre o assunto.O poeta é natural de Areia-PB e reside no Rio de Janeiro. Se você não sabe muita coisa sobre Aderaldo Luciano, convido a visitar o link Inventário no qual irá ter bastante informações sobre o mesmo.
Aderaldo Luciano
Tenho como foco nesta resenha mostrar a minha perspectiva em relação ao quarto texto de cordel "Eventos sob o sol a pino - incidentes sob a lua cheia". São 52 estrofes em sextilha em 16 páginas, publicado pela Editora Luzeiro. O primeiro texto de poema no estilo de cordel da autoria de Aderaldo Luciano foi " O Auto de Zé Limeira" e depois vieram mais outros três cordéis.

Mas, voltemos ao texto objeto desta resenha. A sonoridade do poema é muito boa. Há bem presente os valores transmitidos  pela educação familiar, tais como: simplicidade, honestidade, hospitalidade, trabalho, entre outros.  À primeira vista, o enredo da história de Francisco, o  protagonista, leva-nos a crer que em torno dele teremos diversos fatos narrativos bem envolventes. Na verdade, o poeta Aderaldo poderia ter se estendido bem mais do que as 52 estrofes. Por não fazer, deixa-nos com a vontade de querer mais dessa trama poética. Tive a sensação que o autor irá voltar brevemente com um novo texto de Francisco, numa espécie de saga.  É um cordel que nos remete  ao início do século XX,  mais precisamente ao sertão paraibano, e tem como pano de fundo  a relação entre patrão e serviçal, com característica de sofrimento para o protagonista:

"Dormiu com as cicatrizes,
Viveu com as chagas alertas.
Seu peito, vivo vulcão
De fendas boquiabertas,
Cuspia apenas grunhidos
Com maldiçoes em ofertas."

Da primeira estrofe até a vigésima primeira o mundo de Francisco é o mesmo e que pisamos e vivemos. Continuando a leitura, a natureza que segue seu ciclo  de alternância entre dia e noite, começa a mudar  a cena. Estrofes nos levam ao sobrenatural que vai até o final com imagens fortes de luta e vingança.  Não se pode culpar o autor, caso o leitor prossiga e não venha gostar do que leu. Ele prudentemente se protegeu quando adverte:

"Você, leitor, que não pode
pensar em cenas mortais
pare aqui, feche o livro
para não sofrer demais
pois o que vem a seguir
são eventos bestiais"

Somos frutos das nossas leituras, a dos livros e do mundo que nos cerca, com todos os seus ensinamentos. Nesse cordel Aderaldo Luciano testemunha isso. Há uma grande metáfora nas entrelinhas que compõem as estrofes desse cordel, ele não quer simplesmente tratar de uma narrativa sobrenatural, vai mais além, é um convite à uma reflexão em relação ao binômio patrão/empregado. A eterna luta de classe, na qual o segundo só será vitorioso se houver por parte deste a coragem de transladar, lutar com todas as suas forças em defesa própria. Lembra-me o pensamento de Dalton: "Revoluções, meu caro, não podem ser feitas com águas de rosas.""
Francisco fez a sua revolução, e conforme escrevi acima, ficou o gosto de quero mais. Não devia o poeta ter descansado a pena, exceto se foi para relaxar e  em pouco tempo voltar com Francisco, metamorfoseado e montado em seu cavalo arreado.

Mané Beradeiro


Referências

https://jornalggn.com.br/blogs/aderaldo-luciano. Visualizado em 21 dezembro 2017
LUCIANO, Aderaldo.  Eventos sob o sol a pino - incidentes sob a lua cheia. 1ª ed. Luzeiro. São Paulo, 2016.

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